No intuito de repensar a prática educativa e buscar soluções para um sistema educacional com tantos problemas como o brasileiro, os teóricos da educação têm se voltado para a história. Olhar para o passado permite rever experiências que deram certo e em que contexto foram bem-sucedidas, assim como aprender com os erros. Ao procurar no passado as causas do insucesso do presente, os historiadores depararam-se com a ausência de estudos específicos sobre a história da Educação, especialmente no currículo do curso de História. Essa disciplina encontra-se presa a conteúdos de didática ou a outras disciplinas do curso de Pedagogia. Com isso, alguns historiadores, como Falcon, foram buscar na história da cultura as respostas para as atuais questões da Educação. Se a cultura de um povo representa o conjunto de seus hábitos, costumes e práticas sociais, e temos buscado nela as explicações para a sociedade atual, nada melhor do que buscar nela as respostas que precisamos para redefinir a educação.
Repensando a história da Educação brasileira, podemos perceber que o sistema de ensino existente hoje é, em grande parte, resultado da atuação de forças históricas, econômicas e sociais. Formada com base na escola europeia da Revolução Industrial, desde nossa fase colonial a escola foi usada para impor e preservar a cultura dominante, e a educação servia como instrumento de reforço das desigualdades sociais. Ainda hoje é possível perceber que ela está centrada em um saber branco, europeu, e, por mais que se tenha tentado incluir a cultura negra e a indígena na sala de aula, parecem saberes distantes, geralmente ministrados na disciplina de História. A própria seleção de conteúdos não era apropriada para todos os setores da sociedade e, ao mesmo tempo, não preparava eficazmente para o mercado de trabalho, fato que persiste. A rejeição às atividades técnicas produziu um ensino sem utilidade prática, que não chegava a incomodar o sistema vigente. Ainda hoje, nossos alunos têm dificuldade em relacionar teoria e ação, e a maior parte é incapaz de contextualizar conhecimentos como expressões algébricas ou análise sintática (...)
O que é a história da educação? É a história aplicada aos fenômenos educativos ou uma teoria da educação, quer dizer, exposição da ciência pedagógica de uma forma histórica?
A recente história da cultura pode ajudar a história da Educação a encontrar um caminho próprio. Ao mesmo tempo, revisitar a educação sob o prisma da cultura permite rever o que estamos fazendo errado e por que o conhecimento oferecido pelas escolas é pouco atrativo para os alunos.
Georges Duby afirma que “a história cultural tem como proposta observar no passado, em meio aos movimentos de conjunto de uma civilização, os mecanismos de produção dos objetos culturais”. Se entendermos a produção de uma aula e a própria educação como uma produção cultural nós, professores, nós nos posicionaremos como os agentes principais da educação atual, capazes de rever esse processo histórico e transformá-lo, revertendo a situação.
Diante de todos estes fatores, creio que a maior contribuição dos estudos culturais para a educação é a abordagem sincrônica, capaz de refletir as diferentes faces da sociedade atual. Segundo Falcon, podemos encontrar as seguintes indicações temáticas na história da cultura:
- Visões de mundo: sistemas de valores e de normas ligados às necessidades econômicas, sociais e políticas da sociedade.
- Política cultural: as concepções das diferentes classes e camadas sociais e dos diversos movimentos e correntes.
- Intelectuais: seu papel/função como difusores da cultura.
- Ciência: condições de existência, resultados e funções no cotidiano, no desenvolvimento da sociedade, da consciência cotidiana e das ideologias.
- Cultura material e intelectual da vida cotidiana das diversas classes, camadas e grupos sociais.
- Tradição e inovação cultural de uma época, valores que se transmitem ou que desaparecem.
Observando esses itens, podemos perceber que a educação pode ser pensada por meio de alguns deles; quem sabe possamos tomá-los como inspiração para organizar a disciplina “História da Educação”. Talvez a organização dos estudos históricos permita rever os erros do passado de forma mais explícita, o que certamente nos levaria a não reproduzir modelos, práticas e atitudes com origem em outro tempo, outro lugar e outra gente que não a nossa.
O texto diz tudo e a reflexão continua, e sem ser redundante, cada vez mais vamos olhar ao passado e entender o que somos hoje!
Até a próxima!
Laís, Mellany e Mariana.
:)
Referências
FALCON, Francisco José Calazans. História Cultural e história da educação. In: Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 32, maio/ago. 2006.
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